Não se deve julgar um livro pela capa, diz o ditado. Porém, quando se tem uma capa tão linda e que sintetiza tão bem a ideia do livro, é impossÃvel não ficar tocada por ela. No meu caso, fiquei tão inspirada que decidi bordá-la. A imagem de um coração do qual saem flores e que, ao mesmo tempo, é banhado por lágrimas é muito forte e diz muito das histórias narradas no livro.
Escrevivências, como a autora as denomina porque ultrapassam uma escrita e se impregnam de vida, são as histórias de Aramides, Shirley, Adelha, Natalina (a mulher que se deu o seu nome próprio), Mirtes, Lia, Saura e tantas outras... Vidas que ultrapassam o narrar e se constituem em obras de arte, articulando fragmentos da história de tantas outras mulheres. As marcas de gênero, raça e classe social são evidentes e, mesmo que não tenhamos vivenciado todas, conhecemos tantas histórias que se aproximam das narradas por Conceição, que em um ato de escuta atenta inventa escritas a partir do que ouve.
São histórias muitas vezes dolorosas (temas que têm sido nomeados como #gatilho são recorrentes nos contos), mas também que mostram a insubmissão que marca aquelas que precisam romper com os padrões instituÃdos, não por militância ou por ideais, mas pela necessidade de sobreviver e viver. São histórias tocantes que falam com o nosso passado misógino e escravocrata, e que reverberam no nosso presente machista e racista. São histórias que nos inspiram a pensar em como construir um futuro em que essas não sejam as marcas principais e no qual a insubmissão continue, mas as lágrimas sejam mais de alegrias e de júbilo, do que de dor e sofrimento.
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